A escrita do “filho de ninguém”, de Josué Brito Santana, da Editora Dialética

(CRÍTICA LITERÁRIA)

Josué Brito Santana, autor de A escrita do “filho de ninguém” (Foto> divulgação)

Domingas, uma das personagens do livro Dois Irmãos, de Milton Hatoum, é, quanto a mim, a mais importante da trama passada em Manaus. Ela, a Domingas, traz dentro do seu percurso adulto essa trágica e apagada vivência “paralela”, digamos assim, dentro de um Lar Principal, em que faz a sua jornada-pesada doméstica entre o seu quartinho-solitário lá no fundo do quintal e a Casa-Principal, para trabalhar a jorna sem salário (veja-se a subtileza do substantivo comum para o quarto de Domingas e o substantivo maiúsculo para a Casa dos donos)… E junto da Domingas, o Nael , seu filho e narrador, que também desterra-se num outro quartinho dos fundos, vivendo a angústia da ausência de Sentido de Pertença.

Capa do livro A escrita do “filho de ninguém” (Imagem: Divulgação/Ed.Dialética)

Narrador esse – o Nael ─ que descreve a história dos dois irmãos, e que completa com as falas esparsas do pai dos irmãos, que narra a sua história e da Família, “pitando o bico do narguilé”.

Assim abrange o Livro de Josué Santana: que é, segundo o Prefácio de Nélio Silzantov, “…a necessidade de termos sempre uma história para contar”. E é aqui que Josué dá a inflexão literária, quanto a mim, brilhante: contando a sua própria história, de forma breve mas concisa, principalmente com relação ao seu Pai. Eis a questão principal: O Pai…. Quem é o pai do narrador?…. Um dos gémeos de Halim e Zana?… Nael, a personagem de estudo de Josué, é, na verdade, a essência brutal da miscigenação! Eis, de certa forma (mas não só), este Brasil misturado.

E o que me deixa tranquilo ─ ante a tanta violência urbana e as desfaçatezes de muitos políticos que aumentam o “fosso” das assimetrias sociais dos dias de hoje ─ é o afastamento (pelo menos, para já!) da brutal estupidificação da Terra Plana do último mandato Federal cessante, e a insistência de intelectuais como o nosso Josué Brito Santana, em estudar as Dores Colectivas para nos compreendermos mais e mais, e assim, quem sabe, caminharmos para um Futuro sem assimetrias sociais (ou, pelo menos diminuir de forma gradual e de forma consistente) e longe da violência urbana e da Terra Plana que tanto assolam a todos nós, e muitas vezes de forma subtil!

Para terminar, o livro A escrita do “filho de ninguém” é um livro obrigatório: Pela beleza do texto, pelo tema, e pela força narrativa que arrasta o pensamento vivaz!

Luís Altério *

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