Vem soprando da Europa uma gostosa brisa de primavera política. É a segunda brisa em menos de uma semana. A primeira, mais tênue, veio do Reino Unido trazendo a vitória dos Trabalhistas e a consequente derrota dos Conservadores. A segunda brisa, mais robusta, veio da França. E essa nos traz uma felicidade afável com a certeza de que a extrema direita não passará e que a esquerda, essa sim, passará hoje e sempre e cada vez mais e mais: os 182 votos da Nova Frente Popular das esquerdas francesa, demonstra essa tendência magnífica.
A frente de esquerda como maior força do parlamento francês! As forças nefastas de Marine Le Pen como a terceira força na política francesa! Como não se alegrar com os resultados, mesmo sendo brasileiro?
São lindas as imagens vindas da França: cidadãos em êxtase nas ruas comemorando a derrota da extrema direita e a ascensão da esquerda! O que importa se os extremistas ainda conseguiram 143 cadeiras no Parlamento? O importante é que não serão hegemônicos; o que importa é que há uma consciência crescente sobre o quanto a extrema-direita seria danosa para a França, para o mundo. Fazer um cordão sanitário para barrá-los lá, aqui e alhures deve ser missão de todos nós cidadãos de bom senso.
Macron aceitará um primeiro-ministro indicado pela Nova Frente Popular? Bem que ele deveria, mas ele tentará forçar a formação de aliança com a centro-esquerda para indicar o primeiro-ministro. Mas isso, já são outros quinhentos…
Impossível daqui, mesmo não sendo inglês, deixar de comemorar a fragorosa derrota dos Conservadores no Reino Unido. A maior derrota dos últimos 100 anos! Os trabalhistas com 412 cadeiras no parlamento inglês, ao passo que os Conservadores têm apenas 121; os liberais apenas 71 assentos.
Os trabalhistas de volta depois de 14 anos fora do poder. Certamente voltam repaginados e sem desejos de práticas neoliberais. Eles devem ter arrependido amargamente da última gestão pela guinada à direita neoliberal e por terem praticado pautas econômicas antitrabalhistas. Agora, devem vir com ações mais à esquerda: mais acolhimento aos imigrantes, retomada das políticas sociais, como o do sistema de saúde pública de lá — que foram sucateadas durante os 14 anos dos conservadores no poder —, redução da inflação, menos escândalos, menos Brexit…
As brisas que chegaram são indícios de primavera! Primavera dos povos, primavera das democracias plenas, primavera dos proletariados que, mesmo que demore para a plenitude, ela já vem trazendo a calma de que os novos fascismos, as direitas extremistas não passarão. Agora é a democracia que vence.
Fico agora imaginando as eleições desse ano por aqui: tal qual os bons franceses fizeram, nós brasileiros de bom senso, ao nosso modo eleitoral, fazendo um cordão sanitário para evitar que prefeitos e vereadores da extrema direita não ascendam ao poder. Fico sonhando em 2026 um imenso cordão sanitário dos brasileiros de bom senso embarreirando os extremistas, também embarreirando os nefastos candidatos a deputados propensos ao Centrão, aos fundamentalismos. Imagino o Brasil dando os primeiros passos para um congresso ético, responsável, dialógico, esquerdista e inteligente.
Vald Ribeiro