A heroína da Inconfidência Mineira

lustração de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo - Acervo do Projeto República/UFMG

Só nesta semana fiquei sabendo que nos atos revolucionários da Inconfidência Mineira havia uma mulher:  Hipólita Jacinta Teixeira de Melo. Soube por causa do ato do presidente Lula que sancionou uma lei que autorizou a inscrição do nome da revolucionária no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Suponho que ela só foi incluída como heroína graças aos abnegados estudos de historiadores dos quais o professor André Figueiredo Rodrigues, docente   do departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp do campus de Assis, que segundo vi, foi pioneiro em pesquisas e em ressaltar a importância desta protagonista no movimento separatista mineiro.  Rodrigues, pelo que vi na matéria da Unesp, especialista em estudos sobre a Inconfidência Mineira, se deparou com a presença de Hipólita Jacinta Teixeira de Melo em documentos da inconfidência Mineira enquanto pesquisava esse movimento anticolonial. Hipólita, pelos estudos, pelo que consta no   livro A Fortuna dos Inconfidentes, publicado pelo professor em 2010, foi uma das protagonistas no movimento. Outras mulheres participaram da Inconfidência, mas Hipólita tivera um papel basilar. Soube também que a historiadora e professora Heloisa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi importantíssima pesquisadora para trazer à luz a heroína da Inconfidência, tal qual os estudos historiador Ronaldo Simões, autor do livro Hipólita – A Mulher Inconfidente.

Vi que a heroína tragada pelo apagamento era uma mulher da elite econômica mineira, uma fazendeira intelectual e de forte personalidade que usou da fortuna para apoiar o movimento separatista. Ela foi liderança capital frente aos inconfidentes coordenando diversas ações, criando estratégias, cuidado dos meios complexos e sigilosos da comunicação. Como o movimento foi descoberto pelas forças coloniais portuguesas, a Inconfidente também foi punida: teve todos os bens confiscados pela Coroa Portuguesa.

Quantas outras heroínas jazem nas trevas do apagamento histórico  estão à espera de historiadores para trazê-las à luz do conhecimento?

Lembrei-me agora de Clara Camarão, outra heroína apagada da história oficial e misógina. Fiquei sabendo da existência dela apenas em 2017 quando foi incluída no Livro de Heróis e Heroínas nacionais.  Clara teve papel preponderante nas vitórias dos colonizadores portugueses nas guerras da chamada Insurreição Pernambucana, cujos conflitos de defesa territorial começaram de defesa começaram ainda na década 1630 e se ampliam entre   1645 e 1654.

Clara era indígena — recebera esse nome por ter se convertido ao Cristianismo —  participou junto com o marido, Filipe Camarão — também indígena convertido —, de diversas batalhas, inclusive liderando tropas femininas. Consta que em 1646, na   Batalha de Tejucupapo a tropa feminina liderada por ela usou de uma ardilosa estratégia de guerra. Os holandeses souberam que as tropas lideradas por Filipe Camarão se dirigiam para Salvador para manter a ofensiva.  Crentes de encontrariam uma área livre de combatentes, os holandeses partiram para Tejucupapo. Mas as mulheres, inteligentemente lideradas por Clara, colocaram para ferver toneis com água e pimenta. O vapor de pimenta atingiu em cheio os olhos dos homens do exército holandês, deixando os soldados desorientados. Em seguidas, armadas de flechas e tacapes, o exército feminino liderado pela esposa de Camarão conseguiu derrotar os inimigos.  Nessa guerra, as forças colonizadoras venceram. Apenas nomes de homens aparecem como herói, dos quais o mais preponderante:  Felipe Camarão, aclamado como   herói, a ponto de ser   reconhecido pelo rei de Portugal e condecorado como capitão-mor de todos os índios do Brasil.

Quem estudou, na escola a figura de Clara Camarão?  Assustamos e orgulhamos quando soubemos da existência de Clara, assim como hoje, ao saber de Hipólita. Assim como um dia fiquei surpreso quando soube de uma grande heroína da Independência, sobretudo da independência da Bahia, Maria Felipa, mulher preta, empoderada, inteligente, vitoriosíssima que liderou bravamente forças contrárias às portuguesas.   Eu soube apenas quando eu estava na Ilha de Itaparica a passeio em 2010 quando uma vendedora de cocadas da Ilha falou-me com orgulho dessa heroína. Só em 2018, quando ela foi inserida como heroína do Brasil, tal qual o atual decreto de Lula, é que o Brasil pode conhecer enfim   Maria Felipa.

Quantas protagonistas brasileiras apagadas da nossa história ainda aguardam a presença de pesquisadores para se tornarem visíveis? A sorte é que os poucos a nossa história vão deixando de ser machista e misógina, mesmo que os extremistas com suas histórias paralelas digam sim ao apagamento.

Vald Ribeiro

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