Josué Brito Santana
Chegamos até aqui trazendo histórias, marcas de traumas, feridas abertas e também lembranças boas. Somos seres sensíveis a estímulos do ambiente e quanto mais acolhedores forem as pessoas e os lugares, mais chances teremos de continuar ou de buscar um sentido, uma cura.
Importa muito o jeito como nos preocupamos uns com os outros. Certa vez, alguém me perguntou qual seria a prova de crescimento emocional e eu respondi que, talvez, fosse a forma como nos importamos com aqueles que, aparentemente, nada têm a nos oferecer.
O nosso cérebro é uma grande engrenagem em que tudo se relaciona a três dimensões: o sentir, o pensar e o agir. Sentir é basicamente a dimensão maior. Moral da história, aquilo que fazemos atua nos sentimentos das pessoas, em consequência modula o pensar e por último o comportamento. Na verdade, não é tão simples assim, mas tudo se relaciona.
Pensando em saúde mental percebemos que o circuito da dor pode encontrar saídas quando há um ambiente acolhedor, quando há respeito, tolerância, motivação, união, solidariedade, empatia, aceitação, diálogo, enfim e o resultado é bem-estar, satisfação, contentamento, alívio de tensão etc. Acreditamos na ideia de que cada um pode contribuir para melhorar o clima do ambiente e isso ajuda a mudar visão das pessoas sobre o sofrimento, as formas de encará-lo.
O oposto também é verdade, conviver num ambiente tóxico, extremamente competitivo, violento, preconceituoso, machista, em que impera a prática do bullying e ciberbullying pode trazer sérias consequências, inclusive a morte. Até quando vamos sentir prazer enquanto aniquilamos as pessoas?
Somos uma existência, um fenômeno maravilhoso e irrepetível, marcados por encontros e por oportunidades de sermos mais. Não há nada no mundo mais importante do que a alegria de estar junto e cada momento da vida é uma oportunidade de celebração.
Não tem sentido vivermos, especialmente num lugar de pretenso crescimento, para sabotar ou se autossabotar, agindo impulsivamente, com displicência, desdém e alienação, em permanente estado reativo e/ou agressivo. Chega uma hora em que é preciso assumir a tarefa de se melhorar, de olhar o caminho, o lugar em que se pisa e crescer. Mas para isso, é preciso acreditar, ter sonhos. Para isso, é preciso ter ajuda, é preciso querer.
A nossa voz, o nosso riso e a forma como olhamos as pessoas marcam a nossa singularidade. Educação é poder perceber que a nossa existência importa muito para nós e para os outros. Há pessoas que são tão especiais que se tornam anjos na vida dos outros.
Para que se importar? Porque, de repente, o tempo passou e não tivemos tempo de deixar boas impressões, de fazer amizades e de fortalecer os laços em nossa comunidade.
A escola é um lugar de construção do conhecimento e isso passa também pelo conhecimento de si, das consequências dos nossos atos e de como agir para sair da condição de barbárie para o processo lento de humanização. Acredito que está na hora de uma aprendizagem da prática de um comportamento amoroso. Crescer é aprender a conviver, é aprender a abandonar posturas arrogantes e prepotentes, é ter humildade.
Esse tempo vai passar e hoje é uma excelente oportunidade de deixar uma boa memória na vida das pessoas, dia especial porque estamos vivos. Dia para acolher as lágrimas e ser ombro amigo. Dia para ter empatia, para um aperto de mão, dia para parar de gritar e, finalmente, ouvir. Dia para pensar que não somos superiores, mas que só nos completamos com o outro.
Disso tenho certeza, muitos estão fazendo a sua parte.
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Josué Brito Santana — Psicólogo
CRP-03/10156
( Maio/25)