Júlio Lancelotti fica!

Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

Afirmam-se que a decisão do Arcebispo Odilo Pedro Scherer em proibir o zeloso padre Júlio Lancelotti de transmitir missas pela internet é para a proteção desse glorioso sacerdote que é sempre pelo acolhimento de pobres,   pessoas em situação de Rua, pessoas LGBT.

Se é mesmo “proteção”, que “proteção”? Se é contra tiros, facadas vindas de um extremista de direita seria melhor uma redoma tipo aquela que o papa João Paulo II usava. No mínimo um automóvel blindado. Mas, como a proteção, para quem é cristão vem de Deus, então o caridoso sacerdote estaria já protegido por Ele — e claro, protegido por Jesus que, certamente, está com o padre Júlio, porque o Sacerdote da Mooca, sobretudo sacerdote do povo, faz exatamente o que Jesus pregava e agia. Se é por causa da transmissão ou das postagens, a proteção, abstrata, não vai impedir os ataques de extremistas.

Se eu fosse um repórter, eu pediria licença à empresa jornalística para que eu ficasse de plantão na Arquidiocese de São Paulo até conseguir uma entrevista mais detalhada com o Arcebispo. E, conseguindo a entrevista, seja por agendamento ou por encontro surpresa, eu perguntaria sobre os motivos da decisão dele em proibir o Padre Júlio.  Que tipo de proteção? Se o Arcebispo não ficasse averso às minhas perguntas, eu perguntaria também o motivo do nobre padre popular ter que se afastar das redes sociais. Padre Júlio há tempos tem sido vítimas de injúrias pela internet, então, se é “proteção” por que chegou tão tarde? Eu indagaria também.

Enquanto a resposta não vem, concordo com afirmação da deputada Mônica da Alesp que considerou a decisão da arquidiocese paulistana como “absurda”.  Eu acho mais absurda ainda é se tal reprimenda foi para atender aos reclames do pessoal da extrema-direita que sempre se posicionou contra as ações fraternas de Lancelotti.

Tão lindo é ver o acolhimento que padre Júlio faz aos moradores de rua de São Paulo. Tão lindo é vê-lo agindo como Jesus, aceitando as pessoas como elas são. Mas tais ações incomodam os extremistas da direita, incomodam inclusive cristãos de outras doutrinas.  Há um deputado da extrema que tem ofendido o zeloso padre. O tal opositor do sacerdote do povo, enviou abaixo-assinado ao Vaticano na tentativa de tirá-lo de sua função cristã na Paróquia.

Soube que dom Odilo prima pela democracia e por uma Igreja livre de ideologias. E isso seria bom. Mas cá eu tenho minhas dúvidas: por que a proibição do Padre Júlio, notadamente um sacerdote da Teologia da Libertação, e com isso, considerado por muitos, como homem de esquerda, se o padre Gilson, ideologicamente anticomunista, e identificado como da extrema-direita não foi censurado? Aliás, esse padre anticomunista é o queridinho dos bolsonaristas.

O fato é que a voz e corpo que primam pelos mais pobres estão sendo silenciados. Mas os fiéis não deixarão.  Suponho que alguém daquela comunidade vai transmitir a missa extraoficialmente pelas redes sociais. E como não se trata de uma transmissão oficial da Paróquia da Mooca, o Arcebispo não poderá proibir. Com isso, a “proteção” ao padre libertário será um mero decreto episcopal com dois pesos e duas medidas: cada peso, cada medida pesadamente conservadores.

Se depender dos fiéis e das pessoas de boa vontade, Padre Júlio Lancelotti fica!

Vald Ribeiro

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