A figueira da Prefeitura 

Foto 2 (Crédito: Ivana Lima e Silva)

Ivana Lima e Silva*

Admirável era saber que na prefeitura da minha cidade, tinha uma figueira, até porque gostando tanto das poesias de Manoel de Barros, havia acrescentado um verso ao seu poema De passarinhos .

O poeta nos afirma que:

É preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras nas margens.
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.

Ao que acrescentei o seguinte verso: 

E nas prefeituras das cidades, que haja pelo menos figueiras.

Foto 1 (Crédito: Ivana Lima e Silva)

Era assim na prefeitura de Vitória da Conquista-Bahia, na parte interna, próximo ao setor administrativo, havia uma linda figueira. Afirmo havia, ela desapareceu, foi sepultada, jogaram “a pá de cal” e de cimento. É visível a sua sepultura (veja foto 01). Ao meio de todo o desrespeito ambiental, no mesmo espaço onde antes habitava a figueira, está em andamento a pintura de uma árvore (veja foto 02), nada contra os artistas, a arte é bem-vinda. No entanto é uma contradição pintar árvores, enquanto árvores são cortadas, inclusive as da frente da prefeitura.

Foto 1 (Crédito: Ivana Lima e Silva)

 

Árvores em painéis, não abrigam ninhos de passarinhos, não ameniza as altas temperaturas, “não dá sombra e nem encosto”. É lamentável!  Algumas espécies de figueiras, têm estimativa de vida de cem anos, outras de duzentos anos. As figueiras têm uma significativa simbologia, podemos exemplificar a partir de diferentes concepções culturais. De acordo a citação temos que:    

 a figueira é considerada um símbolo de sabedoria e iluminação. O Buda teria alcançado a iluminação sob a sombra de uma figueira conhecida como Bodhi Tree. No cristianismo, a figueira é mencionada várias vezes na Bíblia e é vista como uma representação da prosperidade, da justiça e da paz. Jesus Cristo amaldiçoou uma figueira que não produzia frutos para simbolizar a destruição daqueles que não cumprem com suas obrigações. (https://campoinformativo.com/qual-o-tempo-de-vida-de-uma-figueira/)

Onde vamos chegar com a falta de consciência ambiental, nesta amplitude? Onde vamos chegar com as licenças ambientais, permitindo-se facilmente o corte de árvores?

Com tanto desenvolvimento tecnológico na arte de construir, no desenvolvimento dos projetos de engenharia e arquitetura, é possível que exista a possibilidade de construção e preservação.

Questiona-se sobre a presença das árvores em nossa sociedade, por várias razões, entre elas a de questão ambiental, patrimonial e paisagística. Enquanto paisagem cultural, patrimonial referenda-se que:

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco (2000), ao elaborar sua Convenção de Patrimônio Mundial, no seu Artigo Primeiro dessa Convenção, considera que a paisagem cultural é uma obra conjugada do homem e da natureza. Pode ser um jardim, um vilarejo, uma paisagem relíquia. Qualquer uma dessas paisagens é marcada pela sua história.( ALMEIDA,p.420 2008).

Estamos inseridos em uma organização espacial, em que vários elementos fazem parte deste contexto, entre eles os componentes ambientais, fazem parte da nossa vida, da nossa história e por várias razões devem ser preservados. A paisagem cultural, como nos afirma Andreotti, contém alma.

Vamos juntos conscientizar, preservação ambiental é uma necessidade.

 

* Ivana Lima e Silva é Professora licenciada em Geografia com especialização em Interdisciplinaridade Básica e habilitação em Magistério Superior. Mestre pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Dinâmicas da Natureza e do Território.

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