Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025
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Lixo-parque

No lixo-parque havia mais gente, urubus e cachorros e a disputa se travava. Meu pai, mestre da boa vizinhança, sempre dava um jeito de acalmar os ânimos.

por Palavras!

 

Havia um tempo em que as coisas mais duras se dissolviam no olhar curioso da criança. Era como se o mundo fosse um brinquedo. Minha mãe, meu pai, meus irmãos e nossos vizinhos unidos pela necessidade e o lixão do kadija como esperança. Era preciso escolher as melhores cargas, aquelas vindas dos bairros chiques. Eu corria atrás de meus irmãos e a gente se divertia de verdade, sempre sob o olhar e reclamações dos mais velhos, temendo algum acidente. No lixo-parque havia mais gente, urubus e cachorros e a disputa se travava. Meu pai, mestre da boa vizinhança, sempre dava um jeito de acalmar os ânimos. Eu ficava com pena dos bichinhos que deixavam o lugar a toque de gritos e de pedras. A hierarquia devia ser preservada.

Lixo bom, com direito a doces de banana, vencidos. Mas quem vencia mesmo éramos nós por adiar a fome para o dia seguinte.  Em agradecimento a Deus preparávamos a nossa ceia com os restos do lado de lá da cidade. Na escola,  as pessoas se afastavam de nós e devia ser culpa do cheiro,  o nosso, mas quem entre nós ligava?

Josué Brito Santana

 

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